1938.
A realidade distorcida em puro deleite. Melodias delirantes, imagens que cintilam por mais de 70 anos em viagens astrais, psicóticas, rock'n roll desvairado sobre películas de ouro. Em tudo isso minha mente era suprida por Hollywoodland.
Me lembro bem daquele dia quente em que Mickey Rooney bateu na minha porta. Eu havia acabado de acordar, ainda vestindo aquela saia plissada cor de rosa. Com os peitos a mostra, deixei meu velho amigo entrar. Numa cordialidade apressada, ofereci a ele um scotch que abrilhantava a mesa da cozinha.
"O que veio fazer aqui?" Perguntei.
"Onde você esteve?" Ele encarava meus peitos com uma expressão que Blake Edwards recriaria anos mais tarde.
"O que veio fazer aqui?"
O velho e querido Mic! Retirou um envólucro da cueca, que imediatamente reconheci por uma obra de arte caribenha. Marijuana prensada. Rooney sempre fora um cowboy incompreendido... Partiu seu pequeno bloco de erva e em pouco tempo ali estava um perfeito cigarro alucinante, respingando saliva pop.
"Onde está o isqueiro?" Indagou ele.
"No recheio de Donald Duck..."
Minutos mais tarde estávamos jogados em meu quarto. Mickey sem camisa, deitado sobre o tapete. Saboreando o baseado, tragava e soltava rodelas de fumaça. Os pés descalços, como sempre preferi... Os dedos roçando uns aos outros.
Eu observava de minha cama. Deitada de bruços, o queixo sobre as mãos.
"Sua vez, Judy La Mamba Gumm..."
Toquei o rolo quente, incendiando com a excitação. Levei-o à boca e meus lábios primeiro se pressionaram e depois sugaram o ar venenoso, inflamado. E meu corpo se abrasou em contentamento. Cada poro, cada orifício, agarrando-se à liberdade e ao desejo de evidenciar a existência com um grito lascivo e mortal.
Fechei os olhos e já não podia mais distinguir o que era a vida, ou o que era a minha fantasia. Só havia as mãos de Mickey sobre meu corpo e a melodia que preenchia minha mente, vinda de um íntimo misterioso...
"Some boys take a beautiful girl
And hide her away from the rest of the world
I wanna be the one to walk in the sun
Oh girls they wanna have fun
Oh girls just wanna have..."
O telefone toca dando fim ao ato de inosculação mental.
"A-alô?"
"Judy? Querida?" Oh, saco! "Querida, tenho uma excelente notícia!"
É Arthur Freed. Compositor, produtor, milionário e pedófilo.
"Sim, senhor Freed?"
"O que estava fazendo? Parece atordoada, meu anjo." Para ele ainda sou virgem.
"Estava fazendo a lição de literatura."
"Ótimo! Devo crer, portanto, que é familirizada com a obra de Baum! Correto?"
"Não estou tão certa, senhor Freed..."
"Ora! The Wonderful Wizard of Oz! Judy, querida, prepare-se para a maior onda de todas!"
continua...